Arautos das Boas Novas - Pedro Velho, pioneiro da Assembleia de Deus no RN


Lançamento do livro: dia 04 de fevereiro na Assembleia de Deus em Pedro Velho-RN às 19h.
Sr. Daniel Galvão - Portador de Memória do Lugar.
José Antonio Galvão de Lima, estudante de História, amante da história local, é filho de Daniel Galvão de Lima, um portador de memória do lugar. Através dos relatos de seu pai, tem a preocupação sincera e honesta de registrar os acontecimentos que fazem parte de nossa história.

A exemplo de algumas postagens científicas publicadas neste blog como: Atividades Sociais na Feira Livre de Pedro Velho-RN, Pedro Velho  em Dissertação e Da Vila de Cuitezeiras a Pedro Velho que utilizaram fidedignamente os relatos de memória do Sr. Daniel Galvão de Lima e outros portadores locais, tiveram a mesma preocupação de José Antonio, registrar a história antes que ela se vá considerando que o seu pai é um homem de idade avançada.

Disso, surge a importância de resgatar a história de quem a conhece e a viveu em infância e juventude e da lembrança dos pais e avós. É nesse contexto de validade que os trabalhos desenvolvidos sobre nossa cidade devem tomar registro porque eles formam a identidade de nosso povo.

Esses relatos publicados na obra intitulada ARAUTOS DAS BOAS NOVAS traz a público a história da origem de uma das maiores congregações cristã do Brasil: a Assembleia de Deus. Com base nos estudos realizados por José Antonio Galvão de Lima, o município de Pedro Velho é o berço da Assembleia de Deus no Rio Grande do Norte.
Daniel Galvão
HISTÓRIA DA ASSEMBLÉIA DE DEUS EM PEDRO VELHO
CONFORME DANIEL GALVÃO DE LIMA
Lembra-te dos dias antigos, considera os anos das gerações passadas. Interroga teu pai e ele te contara”.

Deuteronômio 32:7



“Lembra-te dos dias antigos, considera os anos das gerações passadas. Interroga teu pai e ele te contara”. Dt 32:7

SUMÁRIO

Prefácio

Introdução

1ª Parte: Quando a Igreja Assembleia de Deus chegou a Pedro Velho/RN

1. Para início de conversa

2. Eldorado amazônico e êxodo nordestino

3. As primeiras sementes do evangelho em Pedro Velho

4. Primeiras provas de fé

5. Provas de fé na escola

6. Dissensão e divisão

7. Cuité dos crentes



2ª parte: Arautos das boas novas

1. Jose Galvão de Lima

2. Antonio Torres Galvão

3. Josino Galvão de Lima

4. Antonio Lopes Galvão

5. Alfredo Galvão

6. Inácio Galvão

7. Conclusão





Com o sentimento e o desejo de transformar um sonho em realidade, tendo em vista a aproximação do centenário da Assembléia de Deus no Brasil, resolvi contribuir com o enriquecimento da história. São narrativas transmitidas diretamente pelo meu pai, Daniel Galvão de Lima. Lapidei os fragmentos das narrativas ouvidas desde tenra infância, inserindo conteúdos históricos condizentes com a época.

 Todos os fatos e acontecimentos apresentados foram pesquisados com auxilio da história oral. Consegui fazer um levantamento da história que costumo ouvir de meu pai, como se ele mesmo estivesse editando.

Informações em livros e na internet foram de grande eficácia para comprovar a veracidade dos relatos.

Cabe ainda acrescentar que são apontadas datas bem distintas para o pentecostalismo em solo potiguar. Qual a data correta? 1911? 1914? 1916? Ou 1918? Devido a uma confusão de nomes e datas e informações, o objetivo deste livro não é oficializar uma data e sim trazer à memória o nome de alguns pioneiros que passados quase um século ficaram no anonimato.

O folclorista e historiador potiguar, Luiz da Câmara Cascudo, apresenta o ano de 1914, para a chegada dos pentecostais no Estado. A igreja Assembléia de Deus apresenta o ano de 1918, como data oficial.

Em Pedro Velho, havia opiniões diferentes referentes às possíveis datas. Por exemplo, meu avô ficava chateado quando afirmavam que o irmão Francisco Sotero era o primeiro crente pentecostal em Pedro Velho. Os irmãos do Distrito do Cuité têm no irmão Manoel Luiz o primeiro crente da cidade.

Todos esses relatos aqui contidos podem possuir falhas e equívocos. As retificações necessárias e outras informações não contidas podem ser acrescentadas em uma futura edição.



                                      José Antonio Galvão de Lima. 
José Galvão de Lima (1862 – 1942)
INTRODUÇÃO



Embora você talvez nunca tenha ouvido falar da história da ASSEMBLEIA DE DEUS no RN, ela tem uma história que os verdadeiros cristãos provavelmente acharão fascinante. É uma história em que a integridade e o zelo pela palavra de Deus se destacam.

Os primeiros pregadores do evangelho pentecostal no Rio Grande do Norte surgiram nos primórdios da igreja em Pedro Velho, entre eles: Jose Galvão de Lima, Josino Galvão de Lima, Antonio Lopes Galvão, Alfredo Galvão, Antonio Torres Galvão, Inácio Galvão, José Menezes, Manoel Luiz, Francisco Sotero, entre outros.

Proclamadores do evangelho de Jesus Cristo, esses homens estão entre alguns dos pioneiros da Assembléia de Deus no RN. De modo abnegado, esses evangelizadores dedicaram seu tempo e suas energias à nobre causa de ajudar pessoas a se achegar a Jesus e a desfrutar de uma preciosa relação com Ele. Serviram a Jesus com espírito evangelizador, imitando seus passos como zelosos proclamadores do Evangelho.

        Segue aqui um pouco da história da Assembléia de Deus em Pedro Velho e um breve relato da vida de alguns desses homens de DEUS, conforme narrado pelo meu pai Daniel Galvão.

                                                     José Antônio Galvão
Antonio Torres Galvão (1905 – 1958)

CAPÍTULO 1
Quando a igreja Assembléia de Deus chegou a Pedro Velho

No final da segunda guerra mundial, eu estava na cidade de Porto Velho, no Território Federal do Guaporé, atual Estado de Rondônia, onde servi durante dois anos na hoje extinta Guarda Territorial do Guaporé, no período de 18/12/1944 à 18/12/1946.
Como de costume, freqüentava uma pequena igreja da Assembléia de Deus na localidade, pastoreada por um pastor boliviano que quase não falava o português. Nessa época o governador do Território era o Coronel Joaquim Vicente Rondon, o mesmo pediu para o pastor ceder o local da igreja, que se encontrava em um local privilegiado, próximo ao hospital São José. Em troca o governador daria um terreno e construiria uma igreja maior. No local, o governador pretendia construir um posto de saúde. Durante a construção da igreja, sempre que avistava o pastor, perguntava: irmão como vamos de igreja?
Certa vez, a congregação estava na expectativa da chegada do irmão Otton Nelson, que, segundo algumas irmãs, vinha dos Estados Unidos num pássaro dourado (avião).
Eu havia dito àquelas irmãs que era da cidade de Pedro Velho no RN e que era neto de José Galvão de Lima, um homem que havia hospedado alguns missionários naquela cidade, inclusive o irmão Otton Nelson.
No final da reunião congregacional, fui apresentado ao irmão Otton Nelson, que muito elogiou a oportuna hospitalidade do meu avô nos primeiros contatos da igreja naquela região do país.
Deixe-me contar como a cidade de Pedro Velho tornou-se berço do evangelismo pentecostal, não só do RN, mas de todo o Nordeste.

Eldorado amazônico e o êxodo nordestino
Os ventos de evangelismo pentecostal começaram a soprar pelo Brasil no início do século XX. Nos Estados Unidos, os suecos Daniel Berg e Gunnar Vingren, que se tornaram missionários de um movimento que se distanciava das igrejas reformistas, migraram para o Brasil com desejo de evangelizar territórios virgens, incluindo a região amazônica.
Esses missionários desembarcaram em Belém (Pará). Nessa época, o desenvolvimento de muitas áreas remotas na região amazônica em fins do século XIX e durante o século XX aos poucos colocou o homem em contato com as últimas regiões isoladas da Amazônia. A descoberta do processo de vulcanização da borracha por Charles Goodyear em 1839 e a posterior invenção do pneu resultaram na “corrida da borracha”. Um grande número de comerciantes foi para a região amazônica, o único lugar em que havia borracha crua. Maior reserva natural de seringueira do mundo, a floresta amazônica foi devassada com a intensificação da imigração. Vieram europeus, norte-americanos, sírios, libaneses e tantos outros atraídos pelo comércio promissor. Um campo fértil para missionários de diversas religiões.
Essa época é conhecida pela intensa migração de brasileiros para essa região. Colonos de todos os Estados, particularmente do Maranhão, Ceará e Rio Grande Do Norte – em sua maioria nordestinos expulsos de suas terras pelas secas de 1877 e 1880, empregavam-se em massa no serviço de extração de borracha.
Em 1877, na pior seca que já atingiu o nordeste do país, cerca de 500.000 pessoas morreram de fome. Na ocasião, o imperador do Brasil, Dom Pedro II, prometeu que encontraria uma solução para o problema da seca, nem que tivesse de vender até a última jóia da coroa. A terrível seca atingiu a maior parte da região nordeste. Segundo a revista Veja, Centenas de milhares de nordestinos ficaram “à mercê da chuva que não [vinha]”. A seca torrou as safras de algodão, feijão, milho e arroz, causando uma das piores fomes da história. Em alguns lugares, faltou até água para beber.
Há relatos da abrangência dessa estiagem na Vila de Cuitezeiras, o povoado e toda a região tiveram suas plantações totalmente devastadas pelo rigor do sol. A escassez de alimento era tanta que uma cuia de farinha chegou a custar três contos de réis, uma quantia alta para a época. Como a localidade tinha sua sobrevivência na agricultura, que no momento se encontrava arruinada, ficava claro que o povoado precisava de ajuda para enfrentar a seca.
Do império vinha o socorro. Os donativos para a Vila de Cuitezeiras vinham em forma de alimento, por iniciativa de Dom Pedro II, o mesmo fez viagens pelo rio São Francisco e talvez tenha tido certa noção da dimensão da seca na vida dos nordestinos. Os donativos que chegavam a Cuitezeiras tinham o nome de comissão, que era a parte que tocava a cada morador. Esta comida chegava à cidade vizinha de Canguaretama em barcos. Por esta razão, os populares do Vilarejo de Cuitezeiras deram o nome aos donativos de comida de barco. Devido à estiagem e a falta de perspectiva, moradores de Cuitezeiras também tinham como destino os seringais amazônicos para alistarem-se nas frentes de trabalho para extração do Látex.
A árvore Samaumeira, testemunha daquele passado, ainda existe até hoje. Conhecida pelos populares como pau grande, a arvore mede aproximadamente 45m de circunferência. Cresceu imponente nas margens da estrada de barro que liga o centro de Pedro Velho a Cuitezeiras. A Samaumeira, considerada a maior árvore da floresta amazônica, é centenária.
A história mais aceita é de que teria sido plantada no inicio do século XX por um antigo seringueiro. A corrida para os seringais deu-se até o final da década de 40. Eu mesmo me alistei nessas frentes de trabalho durante o período da segunda guerra mundial, juntamente com meu irmão Josias, meu primo Paulo Basílio e alguns conhecidos, mas acabei desistindo do seringal e fui para Porto Velho, onde me alistei na guarda territorial.
No final do século XIX e primórdios do século XX, no auge da extração da borracha na Amazônia, alguns moradores do povoado Moreira, na cidade de Vila Nova no Rio G. do Norte, migraram para o Estado do Pará em busca de melhores condições de vida. Entre esses migrantes estava Josino Galvão de Lima, residente no Sítio Moreira. Tinham como destino a colônia São Luiz, na localidade de Tapaná, no Estado do Pará. (Colônia São Luiz era um assentamento de seringueiros, um dos mais procurados pelos norteriograndenses).
Foi nessa mistura de progresso amazônico e êxodo nordestino que os ventos do evangelismo pentecostal começaram a soprar pelo Brasil no início do século XX. Por volta de 1910, desembarcaram em Belém (PA) os missionários suecos Gunnar Vingren e Daniel Berg, vindos dos Estados Unidos para realizar o que viria a ser uma grande obra evangélica naquele Estado. Impelidos pelo Espírito Santo e com ardentes desejos de evangelizar territórios virgens, incluindo a região amazônica, esses missionários foram motivados pela ordem que Jesus deu a seus seguidores, de fazer discípulos de pessoas de todas as nações (Mt 28.19-20). A atuação desses missionários deu inicio à “Missão de fé Apostólica”, primeiro nome dado a igreja em 1911.
O forte zelo pelo ide de Jesus e o amor pelas pessoas ajudou os pioneiros a superar os problemas com o idioma e com a falta de dinheiro. Outro desafio era deslocar-se constantemente de um lugar para outro. Não era incomum ter de viajar quilômetros a pé debaixo de tempo ruim, passando por terrenos acidentados para chegar a povoados distantes.
O movimento de evangelização pentecostal se espalhou pelo norte e rumou em direção ao nordeste do país através de nordestinos convertidos.
Muitos desses migrantes aceitaram, converteram-se à fé pentecostal e ajudaram a espalhar as boas novas do evangelho de salvação a outras partes do país. (Mt 24.14)
Entre esses migrantes conversos estava meu tio-avô Josino Galvão, que tinha ido ao Pará em busca de novos horizontes e é alcançado pela pregação daqueles missionários, encontrando assim as águas refrescantes da verdade.
As notícias do Pará vinham através do retorno de parentes ou por cartas trazidas por amigos. A conversa sobre a nova religião de Josino se espalhou rapidamente pelo Moreira. Assim como os atenienses no primeiro século, a quem Paulo pregou, alguns ficaram curiosos e queriam saber mais sobre esse novo ensino (At 17.19-20).
O meu pai, Antonio Galvão Freire de Lima, que havia ido ao Pará visitar parentes, retornou em 1916. Logo que chega de viagem, meu avô curioso, logo perguntou: Antonio, tu já és da Nova Seita?­ Não! Respondeu ele - Eu vi o tio Josino em companhia de alguns missionários, mas não tive contato.
Em 1917, Josino, evangelizador convertido à fé pentecostal, retorna a sua terra com desejo de evangelizar seus familiares. Acompanhado do missionário sueco, Daniel Bergue, hospeda-se no Sitio Moreira na residência do presbiteriano José Galvão de Lima, seu irmão.
Meu avô era um agricultor de baixa estatura que tinha um coração receptivo e se mostrou um ouvinte atento. Persuadido pelo seu irmão e pela pregação dos missionários resolveu inovar com a doutrina pentecostal. Honrou aqueles missionários, homens de Deus com os bens que tinha, hospedando-os em sua propriedade, onde se realizou ali um dos primeiros cultos da Assembléia de Deus em terras potiguares.
Ainda naquele ano, Josino acompanhado de alguns missionários vai à cidade de Goianinha onde visita alguns parentes, e ali realizou o segundo culto na casa do Sr. Manoel Belarmino Galvão.
Meu avô hospedou muitos outros missionários e evangelistas em sua casa, entre eles: Samuel Nystron, Frida Wingle, Nilo Kast, Joel Carlson , Beda Palha , Clímaco Bueno Aza , Jose Menezes. Ilustres visitantes, esses missionários se aventuraram em todo o Nordeste, juntamente com grandes evangelistas e pastores, como: Josino Galvão, Antonio Torres Galvão, Antonio Lopes Galvão, Alfredo Galvão, Manoel Higino de Souza, entre outros. Primeiros frutos da obra pentecostal no Estado. Em obediência ao ide de Jesus, regionalizaram todos os distritos, sítios. Todos tinham um desejo comum: ganhar almas.



As primeiras sementes do evangelho em Pedro Velho
Em 1923, ano em que nasci, todos os meus familiares e parentes eram assembleianos. Josino teve uma participação muito importante na espiritualidade da família. Ele tinha grande estima pela bíblia e sabia muitos versículos de cor. Tinha facilidade de direcionar qualquer conversa para a bíblia. Praticamente toda a família Galvão tornou-se membro da Assembléia de Deus. Incluindo o casal José Galvão e sua esposa Cecília, em cuja casa funcionava culto Presbiteriano. Depois eles a transformaram num local em que realizava culto da Assembléia de Deus. Suas filhas e filho com seus respectivos cônjuges também se converteram, a saber:
1.            Maria Galvão Freire de Lima e seu esposo João Basílio.
2.            Alexandrina Galvão Freire de Lima e seu esposo Juvenal Ribeiro de Paiva.
3.            Josina Galvão Freire de Lima e seu esposo Inácio Basílio Galvão.
4.            Eunice Galvão Freire de Lima e seu esposo Manoel Basílio.
5.            Antônio Galvão Freire de Lima e sua esposa Sefísia Adélia Torres Galvão.
6.            Muita gente do povoado também aceitou a Jesus aumentando o numero de crentes na cidade. Entre esses novos convertidos estavam: O casal Ernesto Galvão e sua esposa Zulmira, irmã Leocádia mãe de Juvenal Ribeiro (Juvenal Ribeiro de Paiva era casado com Alexandrina Galvão, ficou viúvo e casou novamente com Patrocina com quem constituiu outra família),Antonio Lopes Galvão e esposa, Alfredo Galvão, Francisco Sotero e família, entre outros. O paraibano José Menezes converteu-se e foi batizado em Pedro Velho em 1919.    
Após a implantação da Assembléia de Deus na zona rural, especialmente no sítio Moreira, houve necessidade de extensão do campo missionário até a urbana. A igreja funcionou durante algum tempo na casa de meu avô no Moreira depois se transferiu para a Rua São Francisco, que antes se chamava Rua da Lagoa, não tinha sede própria, uma casa alugada. Pastor na época era o irmão Antônio Lopes Galvão, com seus auxiliares Manoel Gonçalo da Silva, conhecido por cabo Manoel, atribuição lhe conferida por trabalhar na estrada de ferro, e o chefe da estação Ferroviária, o irmão Horior.
A iluminação da igreja era garantida por um produto químico chamado carbureto colocado em um vaso de ferro, que quando estava apagando acrescentava-se água e a tocha de fogo subia. Era um pouco desconfortável aquele cheiro forte deixado pelo carbureto, mas era o disponível para época, pois não existia luz elétrica na cidade. Por muito tempo, os crentes que freqüentavam a igreja vinham da zona rural, que com dificuldade se deslocavam para a cidade. Mas tinham que contar com as noites de lua, pois era tudo muito escuro, impossível de vir, principalmente em noite de chuva. Nessa época, contava-se sempre com a visita pastoral do pastor José Morais, que era uma constante fonte de encorajamento. Durante as incursões do pastor José Morais ao interior do Estado, iniciando pelo sítio Moreira, em Pedro Velho, já havia um trabalho realizado na casa de meu avô dirigido pelo irmão Jose Meneses.
Durante aqueles anos teve muitos acontecimentos abençoados. Conta-se que durante um culto de vigília na casa de farinha de Francisco Sotero, muitas pessoas foram batizadas com Espírito Santo.
Não sabemos precisar o tempo dessa primeira fase da congregação na cidade, mas imagina-se muito tempo.
O segundo momento da congregação foi muito mais abençoado: uma casa própria na rua catorze de julho. Era uma simples casa, onde se dividia em um salão para a igreja, outro espaço para o pastor morar. A iluminação dessa segunda casa já era à luz elétrica, fornecida por uma caldeira a lenha que garantia o fornecimento a toda cidade. A população urbana, muito irreverente, não simpatizou com o evangelho. Dificilmente alguém se convertia. A cidade de Pedro Velho sempre foi conhecida na região por seu povo muito vaidoso, farrista. Muitos até achavam bonito, mas quando um jovem queria aceitar o evangelho a sua família muito católica não permitia Pois a sociedade excluía totalmente a pessoa que tomasse tal decisão. 

Primeiras provas de fé
Tentar mostrar verdades bíblicas em um universo totalmente católico numa época em que praticamente ninguém possuía uma bíblia, não seria nada fácil, certamente haveria oposição.
Veja por exemplo o tom do termo de posse do Padre Antônio Ambrosio Da Silva (31-03-1935 a 07-06-1946), registrado no livro de tombo da igreja católica – matriz de São Francisco de Assis, em Pedro Velho/RN:

“aos 31 dias do mês de março de 1935, tomei posse da freguesia de Vila Nova por provisão tomada pelo excelentíssimo senhor Bispo Dom Marcolino Dantas. Às dez horas do dia 31 de março, achando-se a matriz repleta de fieis, iniciei o santo sacrifício, li o evangelho, li a provisão e fiz uma pequena explicação da missão do sacerdote, afirmando bem que devíamos combater a seita protestante.”
 
O discurso do padre Antônio Ambrosio enfatizando a necessidade de se combater a seita protestante, certamente foi influenciado pelo Frei Capuchinho Damião de Bozzano (Frei Damião).
Para combater o avanço dos movimentos protestantes, chega da Itália, a mando do papa, os membros da missão católica formada por Frades Capuchinhos, entre eles Frei Damião. Os membros dessa missão se espalhavam pelo nordeste. Frei Damião se apresentava de cidade em cidade visitando as paróquias. Nas suas andanças arrastava multidões em verdadeiras procissões.
Era muito rigoroso ao perseguir os crentes, incitava toda a população de fieis com muita veemência, com um sermão inflamável.
As pessoas muito perplexas e tomadas pelo seu carisma e a idolatria que a ele devotavam, o obedeciam-no nos mais absurdos combates contra seus conterrâneos. No ajuntamento onde conclamava o povo à fé católica incentivava os maus tratos, deboches e exclusão dos que se dissessem crentes.
Lembro-me certa vez, por volta de 1934, da visita de frei Damião em Pedro Velho. Ele entrou na cidade a pé, seguido por uma multidão com ramos nas mãos.
Passando pela Rua Quatorze de Julho em direção ao cruzeiro onde faria um sermão, observava uma casa com a inscrição: Assembléia de Deus. Parando a procissão disse a multidão que o seguia: Irmãos, isso aqui não é Assembléia de Deus e sim “Assembleia do Diabo”.
No cruzeiro, um marco católico localizado na antiga rua da Linha, esbravejava em seu sermão contra os protestantes, chamando-os de “bode”. Olhava para o Frei Ângelo, seu companheiro de viagem, e dizia: Olha Ângelo, se eu pudesse e a lei permitisse eu pisava esses hereges com os pés e os queimava na fogueira do Santo Ofício.
Os fieis da Assembléia de Deus aceitavam manifestações do Espírito Santo como capacidade de Curar doentes, de fazer milagres e de falar línguas. O culto em estilo pentecostal fazia barulho e chamava a atenção de católicos zombadores.
Na época do Pastor Antônio Lopes Galvão não se tinha paz em lugar nenhum: nem na escola e nem nos cultos que realizávamos. Instigados por Frei Damião e pelo o Padre local, católicos zombadores se ajuntavam do lado de fora do nosso local de reuniões gritando insultos e deboches, interrompendo o culto. Muitas vezes, nos cultos de porta fechada, atiravam pedras e gritavam insultos.

Provas de fé na escola

Os filhos dos crentes, muitas vezes, eram hostilizados na saída da escola. Eram cercadas por crianças católicas que gritavam “bodes” e outros termos pejorativos.
Certa vez, eu e meus dois irmãos, Abinadab e Josias, quase fomos surrados na saída da escola. Uma turma de garotos aglomerou-se ao nosso redor e enquanto nos acompanhava nos chamava de bode e, berrando, nos insultava cuspindo e sacudindo os punhos. Lembro-me bem quando um garoto pegou um pedaço de pau dos restos de uma fogueira e jogou sobre nós.
O meu irmão Josias era durão e bom de briga costumava marcar os garotos mais atrevidos e na primeira oportunidade os desafiava. Brigou com vários garotos. Bateu em Silas, filho do chefe da estação ferroviária, e no garoto Valdemar, filho do soldado João Jesuíno.
A briga com o filho do policial criou um certo distúrbio entre as crianças. Isto atraiu a atenção de um policial, que veio ver o que estava acontecendo. O policial os pegou pelo braço e os repreendeu severamente. Um senhor Aureliano, que era barbeiro na cidade e fazia as vezes de carcereiro, aproximou-se e disse: sargento, quer que eu leve os dois para a delegacia? Não, respondeu o sargento. Esse eu entrego ao pai, referindo-se ao filho do soldado. O outro pode levar, dê uma dúzia de palmada nas mãos e mande chamar o pai. Abinadab, nosso irmão mais velho, tentou argumentar com o sargento, mas foi repreendido.
Foi quando se aproximou um amigo de meu pai de nome Sindô, que se dirigindo ao sargento nos defendeu dizendo: sargento, eu conheço esses garotos, eles são do sítio, e sempre que vêm à cidade são hostilizados por serem filhos dos protestantes.
Na escola, uma professora chamada Odete Medeiros era bondosa e sempre falava com os garotos evangélicos de modo gentil. Repreendia os alunos zombadores para que não nos importunasse. Às vezes a professora Odete era substituída pela professora Celina Mesquita, uma mulher autoritária. Fazia questão de que todos os alunos rezassem o credo. A nossa recusa não agradava a professora, que ficava com raiva e atiçava os alunos a debochar dos colegas evangélicos. Esse clima de hostilidade fez com que nossos pais resolvessem nos tirar da escola. Muitos filhos de crentes na época foram obrigados a deixar a escola.
Os sermões do frade capuchinho Frei Damião de Bozzano tinha o intuito de inflamar e atiçar a multidão de católicos contra os evangélicos.
Os comerciantes crentes muito foram perseguidos. Um comerciante residente no povoado de Montanhas de nome Francisco Regis foi excomungado pelo frei. O mesmo advertia  aos fieis a não comprar ao dito comerciante.
Costumava dizer em seus sermões: “aos protestantes, nós católicos, não damos morada, não compramos nem vendemos coisa alguma.
Os clientes de Francisco Regis já não compravam em seu comércio, pois o Frei havia dito que o mesmo era maldito. Ordenou também que nem mesmo se vendesse leite aos filhos do comerciante.
Devido ao clima de hostilidade que vinha sofrendo, o comerciante resolveu mudar-se do povoado para a sede do município em Pedro velho. Para isso, colocou todo o estoque da loja em liquidação. Conta-se que os preços ficaram tão acessíveis que muitas pessoas saíam de Pedro Velho para comprar cortes de fazenda em sua loja. Francisco Regis residiu por algum tempo em Pedro Velho, depois foi pra o Rio de Janeiro, onde se tornou um comerciante bem sucedido, dono das Casas Regis. Meu irmão Abinadab que era muito amigo do comerciante chegou a gerenciar suas lojas.

Dissensão e divisão
A mudança da congregação para uma casa própria foi motivo de inauguração. Fez-se uma grande festa, vindo muita gente de Natal, inclusive Manoel Higino de Souza, conhecido por irmão Manequinho, que muito almejava a presidência de Assembléia de Deus no RN.
Nessa época, a igreja em todo RN passava por momentos difíceis. O pastor presidente na época, o irmão Gonzaga e o irmão Manequinho, muito se enfrentavam dividindo opiniões entre os irmãos.
Em Pedro Velho não poderia ser diferente, também sofrendo os reflexos. A igreja foi dividida, Manequinho alugou uma casa na rua sete, propriedade de herança dos filhos de Miguel Italiano. A congregação, no principio logo encheu, deixando para trás o pastor Antonio Lopes quase só.
Na época, até os casais se dividiam ficando em igreja diferente. Meu pai, por exemplo, seguiu o irmão Higino, enquanto minha mãe permaneceu fiel a congregação pastoreada pelo pastor Antonio Lopes. Com certeza, o saudoso Pastor Antônio Lopes Galvão passou muita necessidade, precisando que os irmãos que com ele ficaram lhe ajudasse a ir para o Estado do Pará. Após a euforia do momento da divisão, a igreja no Rio Grande do Norte transfere o pastor presidente Gonzaga para a cidade de Santos em São Paulo e  envia o Pastor  Clímaco Bueno Asa, vindo da cidade de Santos (SP), para substituir o Pastor presidente Francisco Gonzaga da Silva (1926-1937).
O irmão Clímaco chegou aqui para assumir a responsabilidade do trabalho, o mesmo esteve em Pedro Velho em visita aos parentes da esposa e apaziguar os ânimos dos irmãos dissidentes. Era casado com Júlia Rodrigues Galvão, cunhada e parenta do meu avô José Galvão. Os irmãos perceberam que tudo o que aconteceu não serviu para acrescentar nada de bom à historia da igreja, por isso resolveram reconciliar-se com a igreja. Da congregação na rua quatorze de julho não sabemos precisar o tempo do citado endereço, mas acredita-se que tenha durado uns cinco anos. Pastorearam essa congregação, o pastor Antonio Lopes Galvão, Pastor Francisco Taveira,  o presbítero Ezequias Taveira e o auxiliar irmão Dão. Os dirigentes dos trabalhos em Pedro Velho muito reclamavam pela falta de conversão. As pessoas chegavam até a porta, não entravam e zombavam muito.
Outro fenômeno que muito dificultava a história da igreja era o fato de que os filhos de crentes muito rebeldes, chamados apenas de filhos de crente, não viam possibilidades de se relacionarem com outros jovens crentes, pois na igreja havia poucos jovens, por isso namoravam descrentes, que exigiam, que uma vez casados se desligassem totalmente da igreja, passando a adquirir costumes católicos, renunciando, sem nenhuma relutância, o que seus pais haviam ensinado. Assim o evangelho foi perdendo as forças. A igreja, mesmo situada em casa própria, vivia incomodada principalmente pelos vizinhos que não entendiam que uma mesma casa servisse de residência e igreja ao mesmo tempo, uma vez que tinham a noção de que igreja era altar de adoração e não podia ser ao mesmo tempo residência de homens.
Outro fator determinante é que a igreja precisava de mais espaço e privacidade, pois as casas daquela rua eram conjugadas, por isso  pretendiam comprar um terreno, para levantar uma bonita igreja, onde hoje se encontra o sindicato rural. A compra do terreno fora efetivada, mas desistiram do terreno, pois acharam muito dispendioso construir uma igreja. Foi aceito então uma proposta de troca feita por Genar Bezerril, que era presidente da Associação Rural, que funcionava na Praça Claudino Martins.
Na época quem dirigia a igreja era o irmão Manoel Gonçalo (irmão Gonçalo), que prontamente aceitou a proposta, pois tinha feito um voto a Deus que se tivesse êxito em um empreendimento, ajudaria a erguer um novo templo. A casa onde conta-se o terceiro período da igreja, foi construída no prédio que antes funcionava a Associação Rural do município, era uma casa fraquinha, na qual o irmão Gonçalo muito trabalhou fazendo alguns reparos. O irmão Gonçalo propôs-se a construir um templo, tarefa muito elevada para a época. Sua dedicação, porem, e o apoio de toda a igreja venceram as dificuldades, e a inauguração da igreja localizada na Praça Claudino Martins foi feita a 12 de maio de1968.
Durante vários ministérios, a igreja passou por várias reformas. Esse período histórico da igreja durou muito tempo, aproximadamente uns quarenta anos. A membresia da igreja por muito tempo ficou estagnada, alguns idosos, praticamente sem nenhum jovem. A congregação pertencia ao campo de Montanhas, o que parecia incompreensível, pois a cidade era o berço da pentecoste na região. Os pastores residiam em Montanhas e davam pouca assistência, ficando a direção da igreja nas mãos do diácono Epitácio.
O diácono Epitácio Florêncio da Costa dirigiu a igreja em Pedro Velho como auxiliar do pastor Francisco Taveira, Pastor da igreja em Nova Cruz e responsável pelo campo em Pedro Velho e do presbítero Ezequias Taveira. Com a emancipação da Vila de Lagoa  de Montanhas,em 20 de junho de 1963, a igreja naquela localidade resolve desmembrar-se da igreja em Nova Cruz, assim, a igreja em Pedro Velho ficou sob a responsabilidade do campo em Montanhas,os pastores da igreja em Montanhas que presidiram a igreja em Pedro Velho tendo como auxiliar o diácono Epitácio foram: o pastor João de Souza  e o pastor Rodão. O diácono Epitácio era cabeleireiro, sustentava a família com sua profissão sem precisar do dizimo e oferta da igreja. O irmão Epitácio ficou a frente da Assembléia de Deus em Pedro Velho ate o final de seus dias, como reconhecimento, a Igreja o consagrou a presbítero com função de pastor.
 A divisão de forma contextualizada se deu através da estreita amizade do Pastor Manoel Higino de Souza com o irmão Francisco Sutero, que lhe hospedava quando vinha da capital. Aqui fez contato e criou todo o clima de animosidade dos irmãos contra o irmão Gonzaga, que já vinham insatisfeitos com a sua atuação frente do ministério das Assembléias de Deus. No distrito do Cuité, a preferência pelo irmão Higino era intensa, os sonhos e revelações só eram direcionadas para ele. As crianças confusas, sem ao menos conhecer o Pr. Gonzaga, tinham medo dele devido a idéia crítica que seus pais lhes faziam.
Os irmãos tinham muita admiração pelo irmão Manoel Higino, pois o achava muito autêntico, eloqüente e carismático, diferenciando do irmão Gonzaga. O descontentamento já vinha da capital, pois a igreja fracassava a cada dia. Em Pedro Velho, junto ao irmão Francisco Sutero, o Pastor Manoel Higino de Souza conquistava a maioria dos irmãos. Entre os dissidentes estavam: O meu pai Antônio Galvão Freire de Lima, Manoel Gonçalo, José Samuel, Ernesto Galvão e sua esposa Zulmira.
O Pastor Antônio Lopes não aceitava a divisão. Certa vez ele declarou a meu pai: “Antônio eu permaneço firme como uma rocha”. A cada dia o rebanho de Manequinho aumentava, disseminando a igreja tradicional, até que o Pastor Antônio Lopes Galvão ficou literalmente só, os irmãos, divididos e confusos, não saudavam mais os irmãos que ficavam com Antônio Lopes.
Na igreja de Cristo, como era chamada a igreja dissidente, preferiu mudar a saudação, de paz do senhor para a paz de Cristo. Segundo o Pastor Manoel Higino, a palavra senhor dá atribuição de senhor de escravos, e já estávamos pela graça. Para substituir a harpa cristã, o Pastor Manoel Higino providenciou um hinário com cânticos de sua autoria chamado saltério. O pastor Antônio Lopes e alguns irmãos que com ele ficaram rasgaram páginas de suas harpas que continham hinos de autoria do Pastor Manoel Higino de Souza.
Os hinos da harpa cristã seguido de três estrelinhas, indicando autoria desconhecida, na verdade, é de autoria do Pastor dissidente.
Pouco tempo depois do afastamento do Pastor Manoel Higino de Souza do corpo de membro da assembléia de Deus foi lançada uma nova edição da harpa cristã. Tentou-se tirar os hinos de autoria do Pastor Higino, mas a maioria era tão inspirada que parecia de autoria divina, além do mais estavam entre os mais entoados nas congregações.
 O pastor Higino foi excelente compositor, cujos hinos fizeram parte da primeira edição da harpa cristã. Era profundo conhecedor das escrituras sagradas e dotado de um carisma que dava prazer ouvi-lo, como dizem os que o conheceram. Eu mesmo o vi pregar em casa do irmão Sotero na rua da linha.
Certa vez, o pastor Antonio Costa,  dirigente da igreja Batista em Pedro Velho, falou-me de sua admiração pelo pastor Higino. Ele me contou que sua mãe já avançada em dias estava enferma sem esperança de recuperação. Foi quando o irmão Higino, em uma visita pastoral, impôs-lhe as mãos e orou em nome de Jesus restaurando-lhe a saúde e prometendo que o Senhor lhe daria mais quinze anos de vida. Como é natural, relatou ele, cumprindo os quinze anos sua mãe veio a falecer.
Conta-se também relatos de milagres de cura divina realizados pelo pr. Manoel Higino com grande repercussão na capital, promovendo despertamento e crescimento na Assembléia de Deus em Natal.
Depois da igreja de Cristo, outros segmentos pentecostais surgiram. Um grupo de pessoas saídas da Assembleia de Deus deu início a outro segmento do pentecostalismo no RN, tendo à frente os filhos de Antonio Galvão de Figueiredo crente de influencia na Assembléia de Deus e autor do hino 487 da harpa cristã.  Os componentes da família Figueiredo (Boenergi Galvão de Figueiredo, Josué Galvão de Figueiredo, Neémias Galvão de Figueiredo, Moises Galvão de Figueiredo, Natanael Galvão de Figueiredo), acompanhados de suas famílias organizaram a igreja cristã pentecostal Brasil para Cristo.
Em Pedro Velho, o segmento pentecostal era situado na Rua 12 de outubro s/n, com o nome Pedro Velho para Cristo, dirigido pelo pastor Moisés Galvão de Figueiredo. O mesmo realizava obra assistencialista denominada “diaconia”, onde doava roupas e alimentos, provavelmente oriunda de alguma organização não governamental. Ficou conhecido na cidade como o velho do bugo.
O Pr. Boenerge Galvão de Figueiredo era conhecido em seu ministério pelo dom de cura, reunindo muita gente em suas pregações. Como prova evidente da sua comunhão com Deus, é oportuno destacar que no ano de 1970, na sua gestão pastoral, adoeceu minha pequena filha de um ano e oito meses de paralisia infantil. Uma luz de esperança surgiu quando uma amiga de minha esposa contou-nos que chegara de Natal o Pr. Boenerge. À Noite, eu e minha esposa Maria Eunice, que ainda não era crente, fomos ao culto levando conosco a criança enferma. Ao final do culto, o pastor pegou a criança nos braços e orou sobre ela repreendendo a doença.
Ao entregar a criança à mãe, tranqüilizou-a dizendo que a menina estava curada. Como ele mesmo havia dito, de manhã cedo a criança havia recobrado a saúde.
Relógio de parede feito em madeira e pêndulo de prata, trazido do Para em 1916 por Inácio Basílio Galvão para o casal Jose G. de Lima e Cecília Galvão. No Moreira na residência do casal o relógio adornava o local do culto. O relógio permaneceu na igreja até o final da década de 90.
      
Cuité dos Crentes
Povoado distante a 8 km da sede do município, Como O próprio nome já denuncia, no povoado, na época, residiam muitos crentes, e lá se conta a história da primeira igreja como templo em nosso município. Segundo relatos, Manoel Luiz de França converteu-se ao evangelho quando se encontrava no Estado do Pará por volta de 1911,onde tentava junto com outros nordestinos uma melhor sorte nos seringais. Ele foi convertido ao ouvir a pregação dos missionários Daniel Berg e Guinar Vingrem.
Após converter-se, partiu do Pará trazendo a fé evangélica para os seus familiares no distrito do Cuité em Pedro Velho, ao divulgar a mensagem do evangelho pentecostal, transformou a sua propriedade em um templo para a divulgação da mensagem das boas novas. Devido a este templo e a conversão de sua família, este lugar passou a ser chamado, até os dias de hoje,de Cuité dos crentes. Isto ocorreu por volta de 1911.
Segundo carta escrita por Asmi Lopes neta de Manoel Luiz ao pastor da igreja no Cuité, na mesma época em que se iniciavam os cultos no Cuité era fundada a igreja no Moreira. Se assim for, o distrito do Cuité e o povoado Moreira tornam-se os primeiros locais de culto pentecostal não só do Rio Grande do Norte, mas em todo nordeste.
Sendo assim, a igreja do Cuité é o marco da Assembléia de Deus no RN.
A construção da igreja foi idealizada pelos irmãos, Antonio Felix, Antonio Luiz, Antonio Veloso e outros tudo sob a direção do pastor Antonio Lopes. A época da construção da igreja era tudo muito arcaico e difícil, o que estimulava os irmãos a persistirem no objetivo.
Como não tinham recursos próprios, resolveram fabricar o próprio material, ou seja, fizeram seus próprios tijolos. E na própria redondeza, se embrenharam na mata e trouxeram madeira para a cobertura, Sendo eles os próprios construtores da igreja. A igreja crescia em número e qualidade, diferençada dos outros pontos de pregação. A própria expressava mais autenticidade e vivacidade no evangelho. Tinha muitos jovens e muita revelação e sonhos. Os jovens cantavam e tocavam.
Nas festas na igreja em Pedro Velho, os mesmos se hospedavam na rua da Linha, na casa do irmão Sotero, aglomerando assim muitos jovens. O pastor Antonio Lopes ia para o Cuité sempre a pé, visitar o campo, orar pelos enfermos. Os habitantes do Cuité recebiam melhor o pastor que outros lugarejos, sendo assim plantada uma boa semente.
A inovação religiosa no Cuité, a principio, se deu pelos presbiterianos, o irmão Antonio Felix conhecido como irmão Flor, vindo do Pará, conta-se que o mesmo brigou na guerra de Plácido Castro, o herói da guerra entre Bolívia e Brasil, pela disputa do Acre. Antonio Felix também era seringueiro e sofrendo muito precisou fugir voltando a sua terra natal, o mesmo chegou ao Cuité como presbiteriano, mas em seguida, ouvindo a inovação pentecostal fez sua decisão.
O mesmo chegou a Pedro Velho em 1911 vindo do Acre. A igreja do Cuité foi dirigida por muito tempo pelo irmão Manoel Veloso. O pastor responsável pelo campo era o irmão Antonio Lopes Galvão.
O irmão Manoel Luiz tinha profissão de oleiro, fabricava utensílios de barro como panelas, vasos e etc, onde os vendia na feira livre. Se alguém o questionava sobre sua religião, costumava dizer que se um anjo descesse do céu trazendo outro evangelho ele não aceitaria.
Josino Galvão de Lima (1883...)

CAPÍTULO 2
Arautos das boas novas
“Quão formosos são os pés dos que anunciam o evangelho de paz, dos que trazem alegres novas de boas coisas”. Romanos 10:15

Muitos pregadores da palavra de Deus surgiram nos primórdios da igreja Assembléia de Deus em Pedro Velho. Segue aqui um pouco da história de alguns desses pioneiros do pentecostalismo em nosso Estado.

José Galvão de Lima (1862 – 1942)
Resumo biográfico: o primeiro morador de Pedro Velho a aceitar o protestantismo presbiteriano. Mais tarde, inovou com a doutrina pentecostal, trazida do Estado do Pará por seu irmão Josino Galvão.
Narrado por seu neto Daniel Galvão: José Galvão nasceu em 1862, ano em que a capela da igreja católica em Cuitezeiras ganhava status de igreja. Residia no povoado Moreira nos aceros do Curimatau onde era proprietário de grandes terras herdadas de seus pais, Manoel Galvão de Lima e Alexandrina Galvão. Era de família católica, assim como todos os moradores em Cuitezeiras.
A povoação de Moreira e Porteiras se tornaram prósperas e povoadas, assim se fazia necessária a construção de uma capela para que o povoado tivesse o seu próprio padroeiro. A capela foi construída em 1896 sob o patrocínio de São José, pois era comum na história da igreja católica o santo ser proprietário de terras.
Meu avô era devoto de São José. Durante a inauguração da capela, trazia em frente à procissão a bandeira do santo que vinha em cortejo da igreja de santa Rita em Cuitezeiras para sua recém construída capela, entre os povoados de Moreira e Porteiras. Um afro-descendente que havia sido escravo de seu pai trazia a estátua de madeira no ombro. A procissão seguia em veredas de matas às margens do Curimataú. Durante a procissão, havia cantorias, ladainhas e fogos. Meu pai tinha sete anos na época e vinha no meio da procissão
Meu avô era homem de espírito religioso. Conta-se que arrasado com a morte de sua mãe mandou o vigário em cuitezeiras Joaquim Lopes Galvão rezar 22 missas em prol da alma da falecida. Ao rezar a última missa, perguntou ao vigário se a missa que mandou rezar era suficiente para assegurar a alma de sua mãe em um bom lugar. Não satisfeito com a resposta do vigário, começou a procurar respostas mais satisfatórias. Era homem que tinha sede de conhecimento da palavra de Deus e certamente não demoraria encontrar a verdade.
Naqueles anos, moradores de Cuitezeiras atraídos pelo eldorado amazônico migravam para alistar-se nas frentes de trabalho para extração de látex ou participar das conquistas de Plácido de Castro em território Acreano e até mesmo ingressar nas expedições do indigenista Cândido Mariano da Silva Rondon para instalação de linhas telegráficas.
A árvore Samaumeira conhecida como “pau grande”, situada próxima às ruínas da igreja de Santa Rita em Cuitezeiras, é testemunha viva dessas migrações. Conta-se que foi plantada por um seringueiro.
Meu avô era um agricultor de baixa estatura, proprietário de terras, respeitado e considerado por amigos e parentes. Além de agricultor, também era comerciante, tinha um armazém onde mais tarde veio a funcionar a Assembléia de Deus na praça Claudino Martins..
Por volta de 1897, aos 35 anos, em uma viagem à capital, passou em frente a um templo Presbiteriano, atraído pela melodia dos cânticos que vinha do interior do templo, resolveu entrar e ouvir a pregação do reverendo. Como tinha um coração receptivo, à pregação esclareceu algumas de suas dúvidas. Ao final do culto, providenciou uma bíblia e alguns irmãos o discipulavam.
Subseqüentemente, as inclinações do meu avô para assuntos espirituais o levaram a decidir tornar-se presbiteriano. Logo começou a dar testemunhos. Quebrou quadros e imagens que tanto venerava, baseando-se no livro de Isaías 44.13-19. Isso foi um choque para seus parentes que o conheciam como um católico praticante.
Todos ficaram contra ele, menos sua esposa. Sempre que podia ia a Natal assistir aos cultos.
Embora fosse de estatura baixa, ele era corajoso, raciocinava claramente e falava de modo persuasivo. Isso o ajudou a defender sua nova fé com muita habilidade.

A primeira oposição
Contava meu pai que certa vez meu avô estava na estação ferroviária esperando um trem para a capital quando resolveu então falar de algumas verdades bíblicas para alguns católicos. Sua primeira experiência em pregar a palavra de Deus foi desagradável. Ao expor algumas verdades bíblicas acabou irritando alguns católicos que o hostilizaram e agrediram. Em Natal, relatou o caso na delegacia onde lhe deram uma carta para ser entregue ao chefe de polícia em Pedro Velho, descrevendo seus direitos constitucionais para continuar a falar da sua religião sob a proteção da lei, sem ser importunado.
Ofereceu sua casa para a realização de cultos, onde recebia irmãos como o Tenente do Exército Francisco Rufino dos Santos (pai do delegado Salatiel) e o Reverendo Parrison, Jerônimo Florêncio da Costa e sua esposa Maria Lopes Galvão. Houve conversões e batismos.
Entre seus irmãos, foi o único que não seguiu para a Região Norte do país. Era casado com Áurea Freire Aranha da cidade de Pirpirituba, na Paraíba, com quem teve seis filhos:
1.            Antonio Galvão Freire de Lima (meu pai)
2.            Miguel Galvão Freire de Lima
3.            Maria Galvão Freire de Lima
4.            Alexandrina Galvão Freire de Lima
5.            Josina Galvão Freire de Lima
6.            Eunice Galvão Freire de Lima
No final de 1897 ficou viúvo. Conta-se que sua esposa, no leito de morte, o fez prometer que o mesmo casaria com a jovem Cecília Rodrigues Galvão, pois confiava ser ela uma boa madrasta para os pequenos.
Os filhos de José Galvão de Lima com sua 2ª esposa foram nove. Oito vieram a falecer ainda criança, restando apenas Natanael Galvão de Lima.
Cecília Rodrigues Galvão tinha duas irmãs: Maria Rodrigues Galvão era casada com Josino Galvão irmão de José Galvão. Júlia Rodrigues Galvão veio a casar-se com um paulistano de Santos de descendência colombiana chamado Clímaco Bueno Asa, que mais tarde veio a ser Pr. Presidente das Assembléias de Deus no RN.


Breve história familiar

Por volta de 1904, uma longa estiagem atingiu novamente a região causando prejuízos na lavoura e tornando inviável a vida naquela região. Sob pressão do clima e da família, meu avô quase seguiu os passos da parentela indo para o Estado do Pará. Suas filhas e esposa entusiasmadas com a perspectiva da viagem começaram a confeccionar roupas e utensílios para a viagem.
As mulheres da casa eram ótimas costureiras, principalmente Cecilia e sua enteada Maria (Maroquinha). Elas não abriam mão da máquina de costura. Isso foi muito bom, contava meu pai. Por elas serem ótimas costureiras, a família estava sempre bem vestida.
Do Pará, vinha a correspondência da parentela a perguntar pela seca que assolava a região e a mandar notícia sobre uma nova seita.
Ao responderem a correspondência, as moças ansiosas pela viagem pareciam torcer que a seca se prolongasse. Isso era expresso na finalização de uma carta, que dizia em parte: “aqui o sol é castigante, afinal nós não temos fé que vinguem as sementes que lançamos na terra..
A visita de um velho amigo de meu avô pôs fim aos planos da família de viajar para o Norte. O velho instava com ele para que não se precipitasse, pois logo a chuva viria, e, além do mais, o Pará era uma terra perigosa e cheia de doenças.
Dizia meu pai que logo após a visita do velho, começou a chover torrencialmente, pondo um ponto final à viagem da família. E para as moças da família que desejavam ir ao Pará, restou apenas praguejar o lagarteiro que com seu canto anunciava um inverno promissor.
Por volta de 1916, os dois homens da família, o meu pai e o seu irmão Miguel, resolveram ir ao Pará. Meu pai apenas para visitar os parentes e Miguel resolvido ficar, pois havia tido uma desilusão amorosa com uma jovem chamada Amélia Rodrigues. Durante um culto de vigília, ele a viu na penumbra da noite nos braços de seu amigo, um jovem chamado Claudionor Galvão de Lima.
Quando meu pai retornou da viagem, meu avô ansioso logo perguntou: Antonio tu já és da nova seita? Não! Respondeu ele. Eu vi o tio Josino junto com alguns missionários estrangeiros, mas não tive contato.

Primeiros missionários pentecostais chegam a Pedro Velho

“Não negligencieis a hospitalidade, pois alguns, praticando-a sem o saber acolheram anjos”. Hb 1.13:2

Em 1917, meu tio avô, Josino Galvão, chega a Pedro Velho juntamente com os missionários da missão de fé apostólica com intuito de evangelizar parentes.
Uma característica notável de meu avô, assim como de outros cristãos maduros, era a hospitalidade. (veja  3Jo 1.5-8)  Devido a essa qualidade, teve privilégio de ter como hóspede o irmão Daniel Berg,   missionário pentecostal que veio para o Brasil em 1910,vindo dos Estados Unidos. Também foram hospedados em sua casa os irmãos Otto Nelson, Nils Kastberg, Frida Vingren, Beda Plan, Joel Kássio e muitos outros vieram após eles. Lembro-me bem do sotaque da irmã Beda Palha ao perguntar a minha mãe sobre notícias de meu tio Antonio Torres Galvão.
Recordo-me também da visita do Pr. Clímaco Bueno Asa e sua esposa Júlia e dois filhos.
Conta-se que o filho do casal, o garoto Natanael, fugiu para a cidade de Santos em São Paulo, deixando sua mãe aflita.
A conversa sobre a chegada do meu tio-avô Josino, juntamente com missionários de uma nova seita e a conversão de meu avô, se espalhou rapidamente entre as pessoas da comunidade. Este novo fenômeno religioso de falar em línguas, na época ocorrendo exclusivamente com crentes pentecostais. Alguns ficaram curiosos e queriam saber mais sobre “esse novo ensino”. Alguns zombavam e ridicularizavam. Parentes de meu avô vieram até ele dizendo: “o que estás fazendo, não basta ter deixado a religião dos nossos pais para ir atrás dos protestantes, agora tu trazes esse povo estranho para tua família ser vítima de zombaria?”
Isso fez com que meu avô tivesse saudade da calmaria dos cultos presbiteriano. Assim como Paulo e Barnabé tiveram desavenças no primeiro século, meu avô teve uma certa contenda com o irmão em Cristo Francisco Sotero . Durante um culto em casa de meu avô no Moreira, o irmão Francisco Sotero exortava as irmãs Cecília e Amávia, filhas de um irmão chamado João Joaquim para que as mesmas recebessem o batismo com Espírito Santo causando um histerismo coletivo. Meu avô pediu que seu genro Inácio Galvão lesse uma passagem bíblica que dizia que o culto deveria ser realizado com decência e ordem.
Jose G. de Lima era tio do Deputado José Fernandes de Lima, governador da Paraíba entre 1960 e 1961. No final dos anos 50, Manoel Fernandes de Lima que também foi governador da Paraíba esteve em minha residência acompanhado da esposa,  querendo saber se um tal Luiz Antonio de Oliveira Galvão, tio de minha esposa, era parente de Jose G. de Lima, porque se fosse, o sangue dele corria em suas veias.Esse Luiz Antonio era um pedrovelhense que se tornou comerciante bem sucedido em João Pessoa.
Durante a gestão do prefeito Lenivaldo Brasil Fernandes, fiz um pedido ao vereador Naldo Lima de Azevedo para que se fizesse um requerimento junto a câmara de vereadores, para que meu avô fosse homenageado, levando o nome de uma das ruas da cidade. O requerimento foi aceito, a travessa José Galvão de Lima fica ao lado do colégio Dr. Pedro Velho.

Antonio Torres Galvão (1905 – 1958)
Resumo biográfico: Natural de Goianinha – RN, quando era adolescente ganhou uma bíblia, gostava muito de lê-la, convencendo-se de que ela continha ensinamentos divinos.  Aos 15 anos de idade, foi expulso de casa pelo pai, por ter aderido à “Nova Seita” como era conhecida a Assembléia de Deus.
Narrado por seu sobrinho Daniel Galvão: Torres Galvão nasceu em 1905, no sítio Pau Brasil em Goianinha- RN. Primo em 1º grau do escritor e historiador Potiguar, Hélio Mamede de Freitas Galvão, filho de João Fonseca da Cunha e Gercina Torres Galvão, casal que teve 4 filhos , sendo Torres o único filho homem do casal.
Suas irmãs eram: Sefisia Adélia Torres Galvão, Eunice e Eurides Torres Galvão, sendo Eurides ainda viva com 100 anos de idade.
Foi um dos fundadores da Assembléia de Deus no Brasil. Tornou-se evangélico ainda muito jovem através da visita de um parente da família vindo do Pará. Era Josino Galvão, evangelizador convertido à fé pentecostal que retornou a sua terra com desejo de evangelizar seus familiares. Josino acompanhado de alguns missionários visitou a casa de Manoel Belarmino Galvão onde realizou ali um culto da Assembléia de Deus.
Muitas pessoas aceitaram a Cristo, o que já não aconteceu com os pais de Antonio Torres. por vários motivos, o pai de Torres se opôs ao evangelho. “Certa vez, sabedor da visita de Josino a casa de Manoel Belarmino, Joca, como era conhecido meu avô materno, disse a sua esposa: Gessina eu vou visitar meu amigo Josino. Meu avô era homem de saúde frágil, vivia sempre doente com graves problemas de saúde, o que deixava a família em situação de pobreza.
A caminho da casa de seu compadre Manoel Belarmino, para próximo a uma porteira para tomar o fôlego, um convertido à fé pentecostal chamado Manoel Leão que ia passando pelo caminho, ao vê-lo sentado se aproximou e disse em tom crítico: “coitado! Além de pobre, doente e sem Cristo”. Meu avô se sentindo ofendido respondeu com frases brutas e retornou para casa. Sua esposa ao vê-lo chegar tão depressa disse: “o que houve que voltou tão depressa? Gessina, encontrei o diabo no caminho, respondeu ele. Esse episódio fez aumentar ainda mais a sua oposição contra os evangélicos.
Quando meu avô, João Fonseca da Cunha (Joca), percebeu que seu filho Torres estava decidido a seguir a nova religião, o ambiente em casa ficou tenso. Pouco antes Ele tinha sofrido uma crise na sua saúde frágil. Era difícil lidar com ele.
A tensão por causa da religião do meu tio Torres piorava cada vez mais. Por isso, pelo bem da paz e para poder se firmar no “caminho do evangelho”, pareceu-lhe prudente sair de casa – 2Pe 2.2 “acompanhou os missionários em suas pregações tornando-se evangelizador. Teve o privilégio de pregar em dezenas de cidades e vilas.”
Certa vez, houve um incidente lamentável entre Torres e meu pai, seu cunhado.
Meu tio Torres era ainda um garoto quando saiu de casa. Conta-se que acompanhou meu tio- avô Josino até Pedro Velho onde ficou em casa de sua irmã Sefisia Em certa ocasião, acompanhou alguns irmãos em cristo até a cidade de nova Cruz onde fariam uma obra de evangelização juntamente com os irmãos em cristo Francisco Sotero, Inácio Basílio Galvão, Alfredo Galvão, Cecília Rodrigues Galvão. Querendo apresentar-se adequadamente para a ocasião, o garoto de apenas 15 anos pegou o terno do cunhado apenas com o consentimento da irmã.
Meu pai, ao se aproximar de casa, ouviu alguém dizer: “Torres teu cunhado foi para Nova Cruz com os crentes”. Entrando em casa quis saber da esposa sobre o terno. Ela respondeu: “emprestei a meu irmão para ir a um culto em Nova Cruz”. Meu pai, irritado, foi no encalço do cunhado onde o encontrando pediu que lhe entregasse o terno, causando constrangimento.
Com o tempo começou a tomar parte do ministério da igreja. Juntamente com os missionários estrangeiros aventurou-se pelo Nordeste em obediência ao “IDE” de Jesus. Pioneiros do evangelho Pentecostal, esses bravos homens, guiados pelo Espírito de Deus, desbravaram cidades e distritos pregando o evangelho salvador de Jesus.
Semi-analfabeto, sabia escrever apenas o próprio nome. Tendo ganhado dos missionários alemães uma bíblia em português, aprendeu a ler sozinho, evidenciando desde cedo a sua condição de autodidata.
Tinha um grande potencial para atrair às massas com suas pregações, isso o fez capacitado em tomar parte do ministério da igreja, tornando-se pastor e evangelizador. O seu crescimento já incomodava alguns dos ministérios, principalmente os missionários estrangeiros.
Certa vez, na cidade de Maceió/AL fez uma pregação cujo tema era baseado no versículo da bíblia que dizia: “expulsai os estrangeiros do meio de vós”.
Os missionários não gostaram do discurso e procuravam pretexto para afastá-lo do ministério – contou-me ele que o acusaram de fornicação, por ter sido visto beijando uma jovem. Com isso foi afastado do ministério por três anos.
Foi muito atuante no ministério da igreja, onde ganhou muitas almas para Cristo. Compôs três  hinos para a Harpa Cristã, os hinos 90 309 e 470.
Afastado do ministério da igreja ficou em Pernambuco, onde conseguiu emprego no almoxarifado de uma indústria têxtil da cidade de Paulista, onde se radicou, tornando-se funcionário da companhia Lundgren de tecidos paulista. Depois exerceu o cargo de tradutor do português para o alemão. O coronel Frederico Lunes, dono das indústrias têxteis de paulista e Guaraçu convidou a Torres para dar aulas particulares a seus dois filhos vindos da Alemanha.
Foi presidente do sindicato dos tecelões o que deu início a sua carreira política. Agamenon Magalhães, governador de Pernambuco, disse certa vez em um discurso: “a Torres Galvão, eu confio o destino de toda essa massa operária.”
Como presidente do sindicato lutava pelos direitos dos funcionários. A diretoria das fábricas de tecelagem exigia dos trabalhadores longas horas extras que não eram pagas no fim do mês.
Como presidente do sindicato dos tecelões, Torres aconselhou os funcionários a cruzarem os braços durante as horas extras, até serem pagos os direitos trabalhistas.
Irritado com a paralisação, Frederico Lunder, dono das indústrias têxteis, acusou Torres de inflamar a massa operária para colocar fogo nas tecelagens. Com o boato de incêndio nas instalações da fábrica foi acionado um contingente policial para assegurar a ordem, tomando as mais estranhas medidas que podia inventar, e mandando imediatamente prender, lhe fez cercar a casa, invadindo o interior dela, de onde o mandaram conduzir para uma prisão. Soldados cercaram a casa do meu tio e deram-lhe voz de prisão. Eu estava lá durante esses dias turbulentos na vida do meu tio. Havia pedido permissão a minha mãe para ir visitá-lo.
Lembro-me quando os soldados chegaram para prendê-lo. Era noite  Ele já havia posto o pijama e  estava deitado, e como de costume lia a bíblia. Sua esposa estava na sala folheando alguns cadernos de escola, pois era professora.
O soldado bateu a porta, a empregada da casa chamada Maria atendeu e em seguida foi chamar o meu tio. Ao se aproximar, o oficial lhe perguntou: “Torres Galvão?” ele se identificou, enquanto sentava-se em uma cadeira e oferecia outra para o oficial,  que agradeceu e ordenou: levante-se o senhor esta preso.
Sua esposa, ao ver o marido ser levado pelos soldados, entrou em desespero e chorando dizia: “meu Deus, levaram meu marido!” De manhã cedo, já refeita do susto, ela propôs ir até o palácio das princesas interceder pelo marido, perante o governador. Tomou condução até Recife, lá ficou em uma praça que fiava em frente ao palácio da princesa esperando a chegada do governador Agamenon Magalhães. Chegando o governador ao palácio ela se aproximou e falou ao guarda que a anunciasse dizendo que era a esposa de Torres Galvão, presidente do sindicato dos tecelões.
Torres Galvão ficou três dias incomunicável. Foi levado à presença do General Milton Cavalcante que o interrogou: “O senhor é um comunista agitador da ordem. Você foi chefe da revolução comunista de 1935 em Mossoró no Rio Grande do Norte.” “Não Senhor,” respondeu meu tio. “Sou do RN e provo que estou aqui desde 1932 e a revolução foi em 1935.” “Cale-se! Senão mando fuzilá-lo imediatamente”, retrucou o general.
O governador Magalhães ordenou que fossem presos três diretores das indústrias para que fosse solto Torres.
Liberto da prisão retornou a presidência do sindicato dos tecelões, onde dá início a sua carreira política.
Foi eleito Deputado em dois mandatos, chegou ao governo de Pernambuco na qualidade de presidente da Assembléia Legislativa (1952). Com o falecimento do governador Agamenon Magalhães, ocupou o cargo por 124 dias. Com a eleição de Etelvino Lins de Albuquerque, deixou o cargo, ainda no mesmo ano em que assumiu e se tornou o primeiro e único operário a comandar o Estado. Foi o responsável pela criação do município de Abreu e Lima, então distrito de Paulista, conhecido por “maricotas”. Autor de livros publicados era também colaborador do Diário da Manhã.
Recentemente uma publicação no Diário Oficial de Pernambuco de 18/08/2009 trouxe a trajetória do primeiro operário a se eleger na Assembléia Legislativa de Pernambuco. O artigo ressalta que Torres Galvão - o libertador de Paulista, fará parte dos Anais da Casa Joaquim Nabuco, por solicitação do Deputado Sérgio Leite (PT). O objetivo é resgatar a história de Antonio Torres Galvão, que se destacou como líder operário e presidiu o Sindicato dos Trabalhadores da indústria têxtil de Paulista Igarassu.
 Sérgio Leite comentou que torres Galvão foi responsável por liberar 50 hectares nas terras da companhia de tecidos paulista, área que se transformou na primeira ocupação residencial, posteriormente denominada Vila Torres Galvão. Por esse motivo, recebeu o título de Libertador de Paulista.
         Torres mantinha certa distância de sua parentela em Goianinha e Pedro Velho. Às vezes, quando notícias chegavam até ele sobre a pouca condição financeira de seus pais, ele mandava dinheiro por algum tempo, depois esquecia. Gercina, sua mãe, quando ficou viúva foi para casa da irmã Isabel em Tibau do Sul. Isabel era mãe de Hélio Mamede de Freitas Galvão. Certa vez, um avião caiu sobre aquela região atraindo muitos curiosos. Um repórter que estava no local perguntou a algumas pessoas onde morava a mãe do Deputado Torres Galvão. Um filho de Hélio Galvão que estava no momento respondeu: “mora ali, em um casebre.
Antonio Torres Galvão era casado com Jenny Viana Ramos Galvão, com quem teve cinco filhos, dos quais apenas dois sobreviveram. Eduardo e Ednor Torres Galvão, ambos  auditores do Tesouro Estadual.
Torres Galvão morreu ainda jovem, aos quarenta e nove anos, em conseqüência de um traumatismo moral devido a uma desavença com o governador eleito Etelvino Lins. Quando estava no governo, apoiou Etelvino Lins para governador. Torres exigiu de Etelvino Lins favores político por tê-lo elegido. Irritado com a cobrança, o governador o humilhou expulsando-o com socos e pontapés.
Antonio Torres foi dirigente da igreja em Paulista. Era homem de boa oratória, fez discurso emocionado em dois serviços fúnebre: o do Missionário Joel Carlson, seu amigo de evangelismo e o do Governador Agamenon Magalhães.

Josino Galvão de Lima (1883...)
Resumo biográfico: Em Belém do Pará foi impactado pela pregação dos missionários Daniel Berg e Gunnar Vingren. Convertido, trouxe Berg para Pedro Velho, onde ficaram hospedados na casa de seu irmão José Galvão. Veio a ser o segundo pastor presidente.
Narrado por seu sobrinho-neto Daniel Galvão de Lima: Meu tio-avô Josino era filho de Manuel Galvão e Alexandrina. Nasceu na povoação Moreira nos aceros do Curimataú. No início do século XX, foi para o Estado do Pará juntamente com seu Pai e alguns dos seus irmãos.
Meu tio avô era homem profundamente religioso, mas de mente aberta. Era um ávido leitor da bíblia. Sua busca por verdades bíblicas o fez entrar em contato com presbiterianos. Em Belém do Pará foi impactado pela pregação dos missionários Daniel Berg e Gunnar Vingren, vindos dos Estados Unidos, para realizar o que viria a ser uma grande obra evangélica naquele Estado. Aceitou a mensagem pentecostal como a tesouro que tinha procurado.
O desejo de pregar a amigos e parentes o fez voltar a sua terra natal diversas vezes. Isso despertou nele um espírito missionário. Teve o privilégio de evangelizar em dezenas de cidades e vilas.
Era casado com Maria Rodrigues Galvão, cunhada de seu irmão José Galvão. Por volta de 1917, juntamente com sua esposa, retornaram a vila Nova acompanhado de alguns missionários inclusive o sueco Daniel Berg e se hospedaram no sitio Moreira na residência do seu irmão, o presbiteriano José Galvão, onde ali se realizou um dos primeiros culto da Assembléia de Deus no RN.
A acolhida dos primeiros missionários em 1917, na povoação Moreira em Vila Nova, trazidos por Josino Galvão, representou um dos primeiro marcos da Assembléia de Deus no Nordeste do Brasil.
Segundo costumes locais, meus avós escolheram uma moça com quem meu pai deveria casar. Sefisia era da cidade vizinha Goianinha. Eles se casaram em 1917, quando ela tinha 14 anos. Meu tio-avô foi responsável por intermediar o casamento. Naquela época havia feito contato também com a parentela em Goianinha, onde ali realiza o primeiro culto da Assembléia de Deus naquela cidade, realizado na casa do Sr. Belarmino Galvão. Ainda na mesma época, Josino, acompanhado de alguns irmãos, realizou um terceiro culto em Natal, na Rua do Arame.
Embora o meu tio avô Josino e sua esposa Maria não tivessem filhos, tornaram-se pais e avós espirituais para a família. Ele e sua esposa infundiram em alguns parentes o espírito evangelizador.
Em uma vaga lembrança de criança, lembro-me de vê-lo sentado no alpendre da casa de meu avô. Próximo a uns fardos de algodão juntamente com sua esposa, lembro-me de vê-la zelosamente afastar uma lã se seu terno de cor cáqui.
Meu tio avô era um homem temente a Deus. Ele e sua esposa Maria Rodrigues Galvão eram muito hospitaleiros e vivenciava o evangelho como ninguém, mas ao final de sua jornada, passou por tremendas provações. Sua esposa era muito caridosa e prestativa, costumava ir ao leprosário visitar uma irmã em cristo chamada Nazaré, acometida pela lepra. Nessa época, a lepra ainda não tinha cura e era considerada uma doença contagiosa. As pessoas portadoras desse mal sofriam com o preconceito.
Os pacientes eram internados e isolados da sociedade em hospitais especiais, chamados leprosários. Ela tinha sido aconselhada a não visitá-la com freqüência, mas ela sempre dizia que Jesus guardava. Infelizmente, ela contraiu a doença, ficando isolada no leprosário. “Não deveis pôr vosso Deus a prova”, diz Dt 6.16. Os cristãos não devem ter um conceito supersticioso da vida, achando que Deus sempre os protegera contra danos físicos. Assim, quando há ameaça de perigo,devem acatar o conselho inspirado: “prudente é aquele que tem visto a calamidade e passa a esconder-se, mas os inexperientes passaram adiante e terão de sofrer a penalidade.” Pv 22:3.
Depois que sua esposa ficou internada, Josino resolveu deixar Belém retornando a Colônia São Luiz, onde estavam alguns de seus parentes. Tornou-se um homem triste e solitário. Morava sozinho em um rancho de palha, onde cultivava algumas plantas. Afastara-se do evangelho nos últimos dias de sua vida. Sua esposa não lhe dera filhos, pois era estéril.
Conta-se que certa vez ao colocar fogo no mato para preparar um roçado perdera o controle do fogo que queimou o casebre em que morava com os poucos pertences que tinha, escapando apenas com a roupa do corpo. Penalizados com a situação, os irmãos da fé muito se comoveram e o amparavam. Neste contexto lamentável de sua vida, o próprio não estava em comunhão com Deus. Desviado do caminho e desanimado, pouco freqüentava a igreja. Desolado e em solidão, premido pelo sofrimento que lhe causou a doença de sua esposa Maria Rodrigues Galvão. Acometido por um câncer na garganta chegou a falecer.
“Não entendo como é isso, dizia meu pai: um homem que tanto trabalhou na obra do Senhor, aquela garganta que tanto louvou ao Senhor ter um fim tão triste. Quem ouvia tio Josino pregar certamente diria: meu Deus, quem se salvará? Tamanho era seu zelo pela palavra.”
Talvez se ele tivesse tido um entendimento diferente sobre algumas passagens bíblicas, suas tragédias pessoais teriam sido menos traumáticas. Devemos reconhecer que muitas situações desagradáveis são apenas o resultado do que a bíblia descreve como “o tempo e o imprevisto” (Ec 9.11). “Os justos não são recompensados na terra por seus atos de justiça nem tão pouco os perversos pagarão suas penas aqui” (Sl 73).
Alguns cristãos, para não serem surpreendidos pelas conseqüências destrutivas do pecado, procuram crer em um cristianismo de acordo com a realidade atual, isto é, um mundo que jaz no poder do maligno e não sob o domínio do reino de Deus. Muitos preferem crer que após a morte dos apóstolos de cristo, passou o poder dos milagres. O apóstolo Paulo explicou: “Quer haja dons de profetizar serão eliminados; Quer haja línguas, cessarão; Quer haja conhecimento, será eliminado. Pois temos conhecimento parcial e profetizamos parcialmente; mas; quando chegar o que é perfeito (completo), será eliminado o que é parcial.” 1 Cor 13.8-10.
Hoje em dia, temos a bíblia completa, a qual inclui todas as revelações e conselhos de Deus. Temos cumprimento de profecias, e temos um entendimento adiantado dos propósitos de Deus. Portanto, para alguns, é mais conveniente crer que não há mais necessidade de milagres. Todavia, o mesmo espírito de Deus, que tornou possível os milagres, ainda existe e produz resultado que fornecem uma igualmente forte evidência do poder divino.
Todavia, os milagres realizados por Jesus eram apenas de natureza temporária. Os curados tiveram novamente problemas físicos. E os ressuscitados morreram outra vez. Mas os milagres de Jesus provaram que ele fora enviado de Deus, que realmente era filho de Deus. E provaram que o herdeiro legítimo do trono de Davi tem o poder de resolver todos os problemas humanos. Sim, mostraram em pequena escala o que acontecerá durante os mil anos que Cristo dominará a Terra. Naquele tempo, os famintos serão alimentados, os doentes serão curados e até mesmo mortos serão ressuscitados! E a doença, e a morte e outros problemas nunca mais causarão infelicidade. (Ap 21.3-4; Mt 11.45)
Em Natal, Josino pastoreou a igreja até 1923, substituindo o pastor José de Morais que teve de regressar a Belém. Em 1922, chegou a São José de Mipibu/RN, onde realizou o primeiro culto naquela cidade. Na igreja em Belém, o pastor Josino auxiliou o missionário Nels Nelson juntamente com os pastores Pedro Trajano,Jose Bezerra, Alcebíades e Francisco Pereira do Nascimento.Anteriormente tinha sido auxiliar do pioneiro Gunnar Vingren e do Pastor Samuel Nystron. Há em Natal uma rua que leva seu nome.


Pastor Antônio Lopes Galvão

Resumo biográfico: aceitou o evangelho no Pará através de seu parente, o pastor Josino G. de Lima.
Tornou-se o primeiro pastor da igreja em Pedro Velho, onde também pastoreava a igreja no distrito do Cuité e cidades vizinhas.
Antonio Lopes Galvão aceitou a Cristo em Belém do Pará, através de Josino G. de Lima. Bebia e fumava muito, quando aceitou a mensagem da palavra de Deus disse: “esse é o ultimo cigarro que fumo e a ultima cachaça que bebo”. Era sobrinho do padre Joaquim Lopes de Oliveira Galvão (primeiro padre em Cuitezeiras).
Casou-se com uma mulher da Lagoa do Couro, na Lapa. Viúvo casou-se novamente com uma mulher chamada Hotila, do Catolé do Rocha (PB).
Impulsionado por seu espírito missionário foi ao Estado do Pará 14 vezes pastoreando diversas cidades naquele Estado, entre elas: Santarém, Óbidos e Soure. Em 1923, foi ordenado pastor pelo missionário Gunnar Vingren.
Em 1924, volta para sua terra de origem, Vila Nova atual Pedro Velho, onde pastoreou a mesma. No mesmo ano organizou e fundou a Assembleia de Deus na cidade da Penha atual cidade de Canguaretama. Passou também a dar assistência aos irmãos em Goianinha. Devido as caminhadas pelos lugarejos seus pés eram inchados e sangrava muito aponto de serem lavados com água quente para aliviar as dores.
Foi neste período construído o 1º templo do campo em Goianinha na fazenda Pau Dólio no distrito de Jundiá em 1942. Antonio Lopes também deu inicio ao evangelho na cidade de Várzea.
Conta-se um acontecimento curioso: certa vez, em uma de suas viagens ao Pará, estava pregando em um lugarejo na cidade de Soure distante do centro da cidade que pastoreava. Conta-se que quando estava dirigindo o culto, um homem do lado de fora do local de reunião zombava dizendo: “onças te coma”. Ao término do culto, algumas irmãs instava com ele para que ficasse aquela noite, pois a distância até a cidade era grande , havia muitos perigos, mas ele dizia que a bíblia era sua espada e por isso não temia o perigo. Mas, de tanto insistirem, resolveu ficar àquela noite. Ao amanhecer, souberam que o homem que estava na noite anterior zombando da pregação do pastor Antonio Lima Galvão fora devorado por uma pintada naquela noite no quintal de sua própria casa.
O temor tomou conta da população que passou a considerar o fato como castigo divino.
O pastor Antonio Lopes Galvão costumava orar pelos enfermos ungindo-os com óleo. Certa vez, em fins da década de 20, o meu irmão menor Esdras Galvão, que na época tinha uns cinco anos de idade, estava gravemente enfermo. Lembro-me de minha mãe bastante aflita. Ela tinha razão de estar aflita. Na época, as crianças morriam de doenças que hoje seriam facilmente curadas. Além do mais, dos filhos que havia gerado, restavam nove. O casal já estava cansado do luto de tantas crianças. Ainda lembro-me de meu pai fazendo caixãozinho utilizando caixote de madeira.
Decidida a não passar por mais um trauma, minha mãe resolveu por em prática sua fé. De manhã cedo foi até a porteira da propriedade esperar  o pastor Antonio Lima Galvão, que passava todas as manhãs com enxada no ombro em direção ao roçado .O pastor a acompanhou até onde estava a criança. Ao chegar à residência perguntou-lhe se ela tem óleo para ungir a criança, a qual respondeu que tinha apenas óleo de coco. Ele ergueu o recipiente com óleo ao céu e orando em nome de Jesus ungiu a criança. Em seguida dirigiu-se à mãe e a tranqüilizou dizendo que a criança estava curada.
Surpreendentemente, logo após a saída do pastor, a febre deixou a criança.
O pastor Antonio Costa, dirigente da igreja batista em Pedro Velho, falou-me de uma convenção de pastores em Natal, onde estava presente o historiador Câmara Cascudo. Segundo ele, Cascudo elogiou o pastor Antonio Lopes, dizendo: “o velho na sua simplicidade falou dentro da bíblia”. Terminou seus dias no Rio de Janeiro na casa do filho Rubens.
(sem foto)
Pastor Alfredo Galvão de Lima
Alfredo Galvão era filho de Daurilio Galvão, que era irmão de meu avô e de Josino Galvão. Alfredo parecia não gostar muito de religião, o mesmo era farrista e mulherengo, mas com o tempo converteu-se ao evangelho e foi batizado em águas na cidade de Pedro Velho. Casou-se com Irene. Quis a providência divina levá-lo a São Jose de Mipibu. Uma oferta de emprego oferecida por um amigo chamado Francisco o levou a morar naquela cidade.
Francisco Alves Galvão, tio de minha esposa, foi chegando em casa quando sua esposa Alcina Lopes Galvão disse: Francisco, veio aqui um senhor te chamando para assumir um emprego em São Jose.
Não querendo o emprego, ofereceu ao seu amigo Alfredo Galvão que aceitou prontamente
 Em São Jose do Mipibu, tornou-se ministro do evangelho, dando continuidade ao desenvolvimento de uma igreja nascida sob os cuidados do pastor Josino Galvão de Lima, seu tio, de saudosa lembrança.

(sem foto)
Inácio Basílio Galvão
Inácio Galvão também foi um pioneiro da Assembléia de Deus nessa região. Estava presente na realização do primeiro culto na cidade de Nova Cruz, realizado na residência da família Menezes juntamente com os evangélicos Francisco Sotero e esposa, Alfredo Galvão, Cecília Rodrigues Galvão, Jose Menezes entre outros. Inácio Galvão era filho de Antonio Basílio Galvão. Casou com Josina Galvão Freire de Lima, uma das filhas de meu avô, com quem teve três filhos: Silas, Samuel e Gideão Galvão de Lima.
Inácio Galvão esteve diversas vezes em Belém do Para. Por volta de 1916, em um de seus regressos, presenteou o sogro com um relógio de parede que ficou sendo usado no local das reuniões de culto.
Contraiu tuberculose, doença contagiosa que na época acometia muitas pessoas. A doença era considerada o mau daquele século. Passou para o senhor em Pedro Velho, onde vivia servindo na igreja que congregava. Faleceu, deixando viúva a irmã Josina com três filhos. A mesma retornou a Belém com dois de seus filhos, deixando o menino Gideão aos cuidados do avô.
Pastor Antônio Lopes Galvão
Conclusão

Outros valorosos homens de Deus, como Jonas Galvão de Figueiredo, Francisco Sotero, entre outros, também trabalharam como pioneiros nesta obra. Infelizmente, são poucos os fragmentos que tenho em memória sobre suas biografias.
Aprendendo mais sobre a fé dos que viveram no passado, podemos compreender melhor aqueles, que, como nós, prestam testemunho do Salvador e ajudam a estabelecer seu reino .Podemos também decidir viver mais retamente ,como discípulos fieis do Senhor Jesus Cristo. Esses homens de Deus ajudaram a lançar os alicerces da obra pentecostal.


Adendo
 
A cidade de Pedro Velho-RN foi uma das primeiras onde ocorreu o cisma (divisão) da Assembleia de Deus no Brasil.
A igreja de Cristo no Brasil conhecida apenas por Igreja de Cristo foi organizada em 13 de dezembro de 1932. Teve início no Nordeste, na cidade de Mossoró-RN e contemporaneamente  em Pedro Velho-RN, onde foi fundada pelo pastor Manoel Higino de Souza, líder do Movimento. No início, os cultos eram realizados na Rua da Linha na residência da família Sotero dissidente da Assembleia de Deus. Depois se alugou uma casa na Rua Sete próximos a linha férrea. Depois de aproximadamente cinco anos de fundada a igreja de Cristo encerrou os trabalhos na cidade de Pedro Velho-RN retornando a abrir as portas quase 80 anos depois em 2010.

Saltério
Hinário usado pelos membros da Igreja de Cristo no Brasil. Os fragmentos do saltério abaixo é da década de 30 e pertenceu a Antonio Galvão Freire de Lima, pai do senhor Daniel Galvão de Lima.
As páginas do saltério abaixo contém hinos de autoria do pastor Manoel Higino de Souza. A Assembleia de Deus baniu da harpa cristã os cânticos do pastor dissidente.








Relógio de parede feito em madeira e pêndulo de prata, trazido do Pará em 1916 por Inácio Basílio Galvão para o casal Jose G. de Lima e Cecília Galvão
BIBLIOGRAFIA

Site da Assembleia de Deus de Natal(RN), http://ww.adnatal.org.br/história.htm.

Bíblia Sagrada, edição comemorativa do centenário das Assembleias de Deus no Brasil. Abril/2011

Diário Oficial do Estado de Pernambuco (D.O.E.) em 18/08/2009. Abril/2011
Livro de tombo da igreja católica Matriz de São Francisco de Assis - Pedro Velho/RN

FONTES
Informações narradas por Daniel Galvão de Lima e sua esposa Maria Eunice de Lima.

Autor da obra "Arautos das boas novas", José Antonio Galvão de Lima.
Postado por Cledenilson Moreira
http://www.clednews.blogspot.com/

PEDIMOS AOS LEITORES QUE SEJAM FIÉIS A FONTE.
Este é um trabalho intenso de pesquisa e relatos orais que merecem o respeito e a credibilidade dos estudiosos e leitores, por isso, pedimos a fidelidade ao livro: "Arautos das Boas Novas" citado acima.


Comentários

  1. Muito boa a iniciativa. Parabéns!!!

    Pr. Edson Moreira

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  2. Sou filho da terra,Cuité de Pedro Velho, hoje um pouco distante da minha comunidade por motivo de está estudando em Natal. Assim como Membro oriundo da Assembléia de Deus em Cuité dos Crentes, atualmente me congrego na Assembléia de Deus em Natal.Quero aqui agradece a Cledenilson por ter postado esta informação relevante, principalmente para os assembleianos de Cuité dos Crentes.

    Atenciosamente!!!
    Elias Januário de Lima
    Licenciado em Química
    Mestrando em Química

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  3. Muito boa a pesquisa do documentário.Parabéns.

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  4. Pindamonhangaba, 12, janeiro, 2012
    Este blog foi um achado para mim. Sou neto de Francisco Galvão de Lima, casado com Zeneida Rodrigues Galvão (cearense) que viveu em Belém do Pará; foi pescador na costa do Amapá, na cidade de Clevelândia próximo a base americana de Clevelândia. De lá foram trabalhar com mineração no Maranhão.
    Gostaria muito de saber que foram meus bisavós.
    Só tenho dois nomes: Antônio e Honorina.
    Obrigado.

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  5. Sou neto de Francisco Galvão de Lima, sobrinho de Josino Galvão de Lima. Gostaria de saber o nome dos meus bisavós, irmãos de Josino. Grato.

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  6. O autor do Livro José Antonio Galvão de Lima está pesquisando sobre os nomes de seus avós e bisavós. hcgalvão. Ele viu o seu comentário acima e em breve mandará alguma informação. Deixe seu e-mail via comentário aqui mesmo. ok
    clednews.com

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  7. Sou neto de Francisco Galvão de Lima , muito me alegrou descobrir este blog , este senhor Daniel Galvão se parece muito com o meu avô Francisco , gostaria de saber o nome dos meus bizavós .


    Marcos Guimarães Galvão .

    galvãomkm@yahoo.com.br

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  8. Parabéns pela publicação desta reportagem, em seu blog, a qual me fez conhecer melhor a história da minha familia gostaria de saber se o livro foi publicado aqui em PE, sou bisneta de José Galvão de Lima e Áurea Freire Aranha, Neta de Maria Freire Galvão de Lima e João Basílio.
    Antecipadamente agradeço.

    debora-drg@hotmail.com

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  9. Olá Marcos Guimarães Galvão.
    Fico feliz por esse documentário ter sido de grande importância para você. Consultando os antigos, descobri que seu bisavô chamava-se Antonio Galvão de Lima, irmão de Josino, José, João, Dourilio e Josina Galvão de Lima, ambos filhos de Manoel G. e Alexandrina. O mesmo foi combatente da guerra de Canudos. Fez parte da expedição de Artur Oscar, formado por batalhões de vários estados.
    Ao retornar ileso da batalha, costumava narrar os acontecimentos trágicos e injustos daquela campanha.
    Antonio retorna a Pedro Velho, deixa uma filha e segue para o estado do Pará. Conta-se que a menina, todas as tardes, ia a casa de um parente olhar orgulhosa a foto na parede do pai combatente que nem mesmo chegou a conhecer.
    Att
    José Antonio Galvão de Lima – Pedro Velho-RN
    Fone: (84) 8121-3945

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  10. Caros colegas seguidores do clednews.com que comentaram nessa postagem. Para entrar em contato com José Antonio Galvão de Lima, autor do livro, ligue: (84) 8121-3945
    Att.
    Cledenilson Moreira.

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  11. Irmão José Antonio, Paz!

    Caro irmão, de fato, a A.D não tem respeitado sua história em seus registros. Aqui em Recife/PE os jornais religiosos não atribuem a Adriano Nobre o pioneirismo, mas a Joel Carlson. A saída do irmão Higino é conhecida por calvinismo. Mas, a do irmão Adriano Nobre nos tem sido ocultado. Caso o irmão saiba, peço o obséquio de, por favor, me informar pelo e-mail vnofilho@gmail.com ou postar aqui mesmo, já que o fato histórico não é segredo.

    Obrigado pelo relato que nos ajuda a entender os acontecimentos.

    Paz seja contigo!
    Valdomiro.
    AD (Convenção Abreu e Lima)

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  12. Alguem saberia dizer se a esposa do Pastor climaco Bueno Aza, irmã Julia tem parentesco com o pessoal do RN ?

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  13. Parabens pelo livro! minha mãe, que é filha de Epitácio Florêncio da Costa, se emocionou bastante com a leitura...narrando também cada fato vividos ainda em sua infancia

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  14. Paz do Senhor. Primeiramente quero parabenizar pela pesquisa e acervo histórico, muito bem elaborado. Sou da família Torres Galvão e estou procurando os laços familiares. Minha vó Isaura Torres Galvão nasceu em Santo Antonio do Salto da Onça - RN e ainda muito jovem veio para o Rio de Janeiro com seu marido, que devido as dificuldades encontradas, resolve ir a São Paulo arrumar trabalho e nunca mais retornou. A minha vó se viu obrigada a cuidar da sua filha sozinha na cidade maravilhosa.Será que poderíamos ser parentes? Meu email para correspondência nhrd@hotmail.com

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