O BRASIL NÃO PODE OSTENTAR A COPA DO MUNDO

Decisão forçada e precipitada. O Brasil se candidatou a sediar a Copa do Mundo de 2014 e ganhou. À força da propaganda e da influência política, o Brasil vai realizar os jogos do Mundial de futebol em 12 capitais.

Serão 32 seleções milionárias que disputarão a taça Jules Rimet em terras brasileiras. A festa será encantadora e o consumo também.

O que me inquieta são as condições as quais o Brasil sediará o Mundial quando não conseguiu e nem tem perspectiva de resolver seus problemas mais corriqueiros e presentes. São graves problemas nas áreas de saúde, educação, emprego, segurança e drogas. Um país com escolas precárias, assaltos a todo o momento nas residências e na rua, uma saúde pública que não atende a população a contento, uma marginalização dos serviços públicos, crianças entregues as condições de miséria, milhares de pessoas querendo um pedaço de terra para plantar e obter sua subsistência enquanto grandes latifundiários usam a cerca para dominar a terra ao bel prazer de alimentar seu gado, uma educação de quadros de giz e carteiras quebradas, professores sem piso e desvalorizados, estudantes trocando as salas de aulas pelos becos das drogas e da prostituição. Esse é o país que mostrará ao mundo as maravilhas do Brasil por meio da Copa do Mundo.

Nossa mídia está pronta para revelar aos olhos continentais os belos e milionários estádios de futebol ultramodernos refletindo os designs regionais com as belas praias, arenas, pele de animais, templos. Estruturas monumentais que representarão as características de cada cidade sede.

Em Natal, RN será erguido a Arena das Dunas além de um novo aeroporto contemplado no projeto. E lembro que os professores da rede municipal estão atualmente com dois meses de salários atrasados e sem o piso salarial.

Em Belo Horizonte, MG, haverá a reforma do Mineirão por 743,4 milhões de reais e lembro que as precárias e perigosas estradas mineiras precisam de reformas para evitar excessivos acidentes.

 

Em Brasília, DF, o Mané Garrincha está em processo de desmonte e demolição. O governo começou a tocar as obras em maio de 2010, após o Tribunal de Contas distrital liberar o edital, então suspenso por suspeita de sobrepreço. Vencedor da licitação, o consórcio Via Engenharia/Andrade Gutierrez entrou nas obras no final de julho. O estádio concorre à abertura e é o segundo mais caro da Copa (R$ 696 milhões). E lembro que a corrupção na Esplanada dos Ministérios deve ser escondida para não prejudicar o andamento da Copa.

Em Cuiabá, MT após o desmonte e demolição do Verdão, as obras em Cuiabá seguem para a compactação do solo, que prepara a etapa de fundações. É o estádio com obras mais avançadas; custarão R$ 342 milhões aos cofres estaduais. E lembro que um dos grandes problemas ambientais não resolvidos de Cuiabá é a poluição.

 

Em Curitiba, PR, a prefeitura e governo prometem resolver a situação da Arena da Baixada. Proprietário do estádio, o Atlético-PR poderá captar R$ 90 milhões em títulos de potencial construtivo para a obra, e bancará outros R$ 30 milhões. E lembro que o Paraná apresenta altos índices de desemprego e violência; contrabando, tráfico de drogas e armas em alta, por meio de Foz do Iguaçu no Brasil à cidade de leste no Paraguai e Argentina. Além de crise agrária com influência ativa do MST.

Em Fortaleza, CE, o governo do Ceará divulgou o vencedor da licitação do Castelão. A demora fez de Fortaleza uma das sedes mais atrasadas da Copa. Se homologado, o consórcio Galvão/Serveng/BWA vai construir com (R$ 452,2 milhões) e operar o estádio por oito anos. E lembro de que a violência e a insegurança pública são vistas pelos cearenses como principais problemas da cidade de Fortaleza, com 22,1 % das opiniões, seguidas pela Fome/Miséria, com 20,5 %.

Em Manaus, AM, será erguida a Arena Amazônia. É um dos estádios em fase mais avançada de obras que começaram em maio de 2010. Orçado em R$ 499,5 milhões, o estádio será bancado com recursos estaduais. E lembro que há uma oferta de 80 mil reais por cabeça para defensores da floresta amazônica. Segundo Marina Silva: é preciso compreender que, na Amazônia brasileira, as ameaças precisam ser levadas a sério. Na luta para proteger a floresta há uma trilha de cadáveres de homens e mulheres honestos, em geral anônimos, quase sempre abandonados pelo Estado.

 

Em Porto Alegre, RS, o Internacional começou a reforma do Beira-Rio em 29 de agosto de 2010, com perfurações para a instalação de estacas que vão dar suporte à cobertura do estádio. As obras de R$ 120 milhões não têm construtora definida. E lembro que os jornais do RS evidenciam semanalmente o fato da gravidez precoce e de crianças desamparadas agravarem problemas sociais.

Em Recife, PE, houve a liberação da licença ambiental para as obras da Arena Pernambuco. A concessionária Odebrecht/ISG/AEG finaliza uma pesquisa arqueológica no terreno, enquanto o governo tenta retirar os últimos posseiros da região. A construção está orçada em R$ 464 milhões. Expulsão das pessoas de seus lares para fazer um dos palcos da Copa.

No Rio de janeiro, RJ, o governo iniciou em maio de 2010 as obras secundárias no Maracanã. A obra está orçada em R$ 705 milhões. Os cariocas já têm como certa a final da Copa na cidade. E lembro que o desastre das chuvas na região serrana ainda não foi resolvido e que o Rio não sabe se solta fogos de artifícios para a Copa ou para avisar aos traficantes que a polícia está subindo o morro.

Em Salvador, BA, o grupo OAS/Odebrecht implodiu a estrutura da Fonte Nova em 29 de agosto de 2010. Com construção orçada em R$ 591 milhões, o valor nominal do contrato do estádio chega a R$ 1,6 bilhão, já que envolve gestão e manutenção por 35 anos. A cidade se candidatou à abertura e pode ampliar a Fonte Nova de 50 mil para 65 mil lugares.  E lembro que a cidade sofre com a desigualdade social, há tempos, a capital da Bahia também sofre com o turismo sexual, desemprego e violência, iluminação pública e saúde precárias, crescimento desordenado (favelização) e desrespeito ao meio ambiente.

Em São Paulo, SP, o Morumbi foi vetado. São Paulo definiu o estádio do Corinthians para representar a cidade na Copa. O clube construirá arena para 48 mil pessoas (R$ 335 milhões) com a Odebrecht e não se compromete a ampliar o estádio para público de 65 mil. São Paulo concorre à abertura da Copa, mas é a única sede indefinida. A torcida do Corinthians está fazendo um reality show filmando diariamente a obra para ver se sai em tempo. E lembro que São Paulo tem o maior índice de desemprego do Brasil. A poluição do ar na cidade é intensa; o trânsito é caótico com alagamentos constantes em dias de chuvas; tem o rio Tietê considerado rio morto pela poluição e, a violência cotidiana está estampada nos programas de televisão.

 

Portanto, diante de inúmeros problemas sociais, econômicos, ambientais e políticos, o Brasil insiste no “pão e circo” da Copa que na verdade não vai beneficiar o povo brasileiro em nada. O lucro da Copa vai para empresas multinacionais que faturam bilhões com o evento. A Copa é simplesmente dinheiro público do contribuinte, povo brasileiro, tirado da boca de nossos filhos e do bolso de nossas famílias para realizar um evento bilionário que não é nosso. É dinheiro tirado de nossa saúde, educação e serviços públicos cujo banquete da festa é para poucos convidados e o pobre brasileiro sequer será convidado a partcipar porque os ingressos são para os ricos.

É o encantamento disfarçado que está de volta. Fazer a festa para esquecer as mazelas e sociais do nosso povo. Foi assim em 1970 quando a pobreza assolava o Brasil sob as correntes da Ditadura Militar e as pessoas não podiam reclamar senão seriam presas e torturadas. O único grito permitido era “Pra frente Brasil, salve a seleção”. Fomos tri-campeão do Mundo de futebol. Será que tínhamos o que comemorar? O que o povo brasileiro ganhou? Mais repressão e fome. E, em 2014, o que vamos gritar para comemorar?

Por Cledenilson Moreira.

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